quarta-feira, 2 de maio de 2012

Primeiro trans-homem do país, João W. Nery lança livro e discute saúde pública e homofobia




O escritor e ativista João W. Nery, considerado o primeiro trans-homem a assumir-se publicamente no Brasil, estará presente no 7º Encontro de Travestis e Transexuais da Região Sudeste. No dia 6, domingo, ele lançará seu livro “Viagem Solitária: memórias de um transexual trinta anos depois” (Editora Leya). No dia 8, terça-feira, ele coordenará o grupo de trabalho “Saúde integral e SUS: prevenção e acesso”, que discute políticas públicas na área da Saúde para travestis e transexuais.

Na última segunda, dia 30 de abril, João W. Nery contou um pouco da sua história e falou sobre a violência contra LGBTs no Programa do Jô, na Rede Globo. 




LEIA TRECHOS DO LIVRO “VIAGEM SOLITÁRIA: MEMÓRIAS DE UM TRANSEXUAL TRINTA ANOS DEPOIS”

Todos me viam como uma menina. Para mim, eu era um menino. Havia um abismo entre como me via e como me sentia. Adorava brincadeiras consideradas de menino. Era reprovado. Gostava de me vestir como os garotos, tentando rivalizar e competir com eles. Era ignorado. Tremia e me apaixonava pelas meninas, mas era impedido de me declarar. Meus sonhos eram ser um super-herói,, mais tarde casar com uma princesa e ser pai. Era incompreendido. Passei então a esconder meus sentimentos e minhas aspirações. Fazia ginástica para me tornar forte. Arranjei uma namorada sem que ninguém, nem mesmo ela, tomasse conhecimento. Mas o que acontecia? Será que o mundo estava de cabeça para baixo? (página 34)

Eu não conhecia ninguém igual a mim. Não era hetero, não era homo, era trans. Mas o que é ser trans? Eu não sabia. Era só diferente. Precisava me reinventar. [...] A operação e o hormônio ainda não tinham provocado transformações tão significativas a ponto de me tornar fisicamente outra pessoa. No entanto, foi a chave para que eu tivesse agora condições de exigir que me vissem e me tratassem como sempre me senti. Antes, ninguém aceitaria. Quando era pequeno e ouvia todos se referindo a mim como ‘ela’, consertava mentalmente para ‘ele’. (página 204)

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