sábado, 5 de maio de 2012

Palestra de abertura do 7º Encontro de Travestis e Transexuais da Região Sudeste será com o escritor trans-homem João Nery




João W. Nery ganhou, recentemente, destaque na imprensa nacional devido ao lançamento do livro "Viagem Solitária: memórias de um transexual trinta anos depois” (Editora Leya). O escritor pode contar no seu currículo entrevistas para o Programa do Jô e para a jornalista Marília Gabriela. Mas o ativista e escritor não se enquadra, nem se deixa enquadrar no rótulo de celebridade: "Meu aparecimento na mídia foi para dar maior visibilidade aos trans-homens, que sofrem, além de tudo, a pecha de serem mulheres que recusaram o seu destino reprodutivo, coisa inaceitável numa cultura judaico-cristã". Abaixo, leia entrevista com o escritor e ativista.

Em algumas entrevistas, você se define como um trans-homem e diz rejeitar a palavra homem. Por quê?

Na verdade, sou contra as marcas identitárias, pois as acho limitantes dentro da pluralidade que cada uma contém. No entanto, para se fazer mais inteligíveis, prefiro esta forma trans-homens, porque torna-se um substantivo e não uma qualificação como transexual masculino. Além do mais, foge dos binarismos homem/mulher, masculino/feminino.

Sua militância é recente e, em algumas declarações públicas, você afirmou ser por causa do aumento do número de LGBTs assassinados no país. Além dessa causa – que é importantíssima – em que você acha que o seu engajamento pode contribuir para a causa LGBT e, em especial, para os trans-homens?

Meu livro é a única autobiografia escrita em português. Ele tem servido como instrumento de esclarecimento e ajuda para muitas pessoas. Meu aparecimento na mídia foi para dar maior visibilidade aos trans-homens, que sofrem, além de tudo, a pecha de serem mulheres que recusaram o seu destino reprodutivo, coisa inaceitável numa cultura judaico-cristã. Sou mais um estudioso do assunto e agora, com a publicação do “Viagem Solitária”, acabei entrando numa viagem solidária, na qual dou palestras e contribuo também com a minha própria experiência pioneira.

Seu primeiro livro foi prefaciado por Antônio Houaiss e, em seu segundo livro, você fala de uma convivência com Darcy Ribeiro, amigo de sua família. De que maneira a proximidade com esses dois grandes intelectuais contribuiu para a sua formação e para seu atual engajamento?

Meu livro foi encaminhado para o Houaiss por uma amiga comum. Ele leu, gostou e sem que eu o solicitasse, me presenteou com o prefácio. Quanto ao Darcy Ribeiro, foi uma convivência longa e bem mais íntima desde a minha adolescência. Ele teve uma decisiva influência no meu modo de pensar e agir. Aprendi a não temer as palavras, a desconstruir o dito “universal inabalável”, a ter coragem para enfrentar posições chauvinistas e, sobretudo, mergulhar no mundo da curiosidade intelectual, me envolvendo no mundo do debate e do conhecimento.

Qual a sua expectativa em relação ao evento?

Que gere muitos frutos positivos em todos os sentidos para @s transidentidades. É uma grande oportunidade para tod@s serem ouvid@s quanto às suas necessidades e desenvolver propostas de ações mais concretas e direcionadas.

Você vai coordenar um dos Grupos de Trabalho relacionado à saúde pública. Qual a sua opinião sobre as políticas públicas para os e as transexuais nessa área?

Quase não há nenhuma. Há dificuldade de acesso, discriminação e preconceito dentro do próprio SUS, que, aliás, são pouquíssimos [acessos] diante da imensa demanda e não atendem a todas as necessidades d@s trans. É importante que se discuta a despatologização como também o pretenso “diagnóstico” do transexual “verdadeiro” e suas exigências desde a idade mínima de 21 anos. Cabe propor ainda incluir demais transgêneros que não se identificam como transexuais e que também precisam de assistência. Deve-se rever a questão da exigência de 2 anos de espera e a psicoterapia compulsória. Fundamental também seria a questão da mudança da documentação independente da cirurgia de transgenitalização, como já existe em outros países.

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